Se você está pensando em ler One Piece, esteja preparado para inconsistências na qualidade das 12 sagas finalizadas até o momento. Embora não haja uma única que possa ser considerada ruim (como o arco dos “Fullbringers” em Bleach), as sagas da obra principal de Eiichiro Oda não compartilham do mesmo nível. Tentamos evitar spoilers ao máximo, mas siga por conta e risco. O ranking abaixo analisa apenas o mangá dos Chapéus de Palha. Vamos lá!
12º – One Piece: East Blue (Volumes 1-12)
Existe uma piada comum no fandom de One Piece: “Depois de East Blue, fica bom.” Alguns fãs afirmam que a obra se torna interessante no arco Arlong Park (volumes 8-11). Talvez o problema esteja no tamanho da saga, cuja premissa é introdutória. East Blue se destina a apresentar os personagens principais e inseri-los no trecho que importa do cenário, a Grand Line. É o ato um. O problema é que esse primeiro ato dura 100 capítulos de quadrinhos.
Comparativamente, o primeiro arco de Naruto compreende 33 capítulos do mangá (o prólogo e trecho do país das ondas). A primeira fase de Bleach (arco do agente Shinigami) ocupa 70 capítulos. Se você fundir os primeiros arcos das obras de Masashi Kishimoto e Tite Kubo, alcançará o total de capítulos da primeira saga de One Piece, com apenas três sobrando.
East Blue exige muito tempo de leitura e não retribui com significativos avanços do enredo principal. É um bom trecho introdutório, mas requer paciência típica apenas entre leitores apaixonados de Senhor dos Anéis.
Se você é um adolescente com muito tempo livre, East Blue é uma experiência de leitura ok. Caso você seja um adulto que trabalha no difícil dia a dia da maioria dos brasileiros, East Blue pode se tornar um saco.
11º – Thriller Bark (Volumes 46-50)
Ninguém enaltece Thriller Bark. É a primeira saga a suceder uma das mais amadas de One Piece (Water 7). Embora carregasse a grande responsabilidade de manter a consistência da saga anterior, a fase que introduz Brook na história não avança o enredo de maneira significativa. Funciona como uma pausa onde Oda foca em trabalhar as premissas aventurescas e cômicas específicas dessa fase.
O problema é único: depois de vivenciar o amálgama de recursos narrativos que é Water 7 (que desenvolve personagens e locais importantíssimos do cenário da HQ), ler Thriller Bark se torna uma experiência retrógrada dentro do longo processo que é consumir One Piece. É frustrante.
10º: Fishman Island (Volumes 61-66)
Essa é uma das maiores decepções dos fãs. A ilha dos homens-peixe foi um local citado várias vezes ao longo da primeira parte de One Piece (pré-time-skip). Muitos leitores se empolgaram com a expectativa. A chegada da saga trouxe um vilão esquecível, cujo carisma jaz metros abaixo de um Crocodile ou Enel. O próprio Arlong consegue ser mais icônico que Hody Jones.
A grande qualidade de Fishman Island é seu ótimo desenvolvimento temático. O tema central é escravidão, cuja escrita cria paralelos entre a história escravista de One Piece e a dos Estados Unidos. Talvez seja a saga com o desenvolvimento temático mais bem escrito. É uma pena que Oda tenha acertado tanto nesse aspecto e errado como errou em outros. Fishman Island é chato, especialmente por ser o sucessor da melhor saga do mangá (continue lendo para saber qual é).
9º – Punk Hazard (Volumes 66-70)
Essa fase avança significativamente o enredo macroscópico da obra ao estabelecer uma aliança entre Law e Luffy contra os imperadores do mar. Ela também dá destaque a personagens até então pouco utilizados, proporcionando mais tempo de tela para Smoker.
Em contrapartida, Caesar é um exemplo de que a criatividade de Oda nem sempre funciona para vilões. O antagonista é um cientista maligno que realiza experimentos em crianças, sendo essencialmente uma versão maligna do Macaco Louco. Isso pode ser inaceitável para leitores com mais de 15 anos de idade.
Outra vantagem dessa saga é o fato de ser curta. Ela não se prolonga excessivamente, como em outros exemplos nesta lista. O trecho vem, realiza o trabalho e se encerra. É uma abordagem que Oda deveria ter utilizado mais frequentemente.
8º – Zou (Volumes 80-82)
O oitavo lugar é admirável. Mostra que o autor é capaz de não se prolongar desnecessariamente. Importantes pontos do enredo central são trabalhados. Zou é um ótimo elemento de estrutura, porque desenvolve o vilão central de uma saga que ocorrerá só depois de Whole Cake Island, que é o trecho seguinte a Zou.
Ao mesmo tempo em que Zou é eficiente, também consegue ser esquecível. É possível produzir histórias memoráveis em poucos volumes de mangá (Kentaro Miura conseguiu fazê-lo nos primeiros três de Berserk), mas Zou estabeleceu-se apenas como uma saga de transição.
7º – Skypiea (Volumes 24-32)
Um meme comum no fandom faz referência ao fato de que alguns fãs pulam essa saga durante a leitura. O único antagonista memorável é Enel, e o foco narrativo reside no subplot específico da ilha que os Chapéus de Palha visitam nesse trecho.
A história envolvendo Skypiea e os personagens terciários explorados nesses volumes não impacta significativamente no enredo principal do mangá. Em outras palavras, se você não se importar com esses subplots escritos por Oda, essa saga pode se tornar entediante. Essa característica de um grande foco em subplots também está presente em outras obras, como na franquia de jogos Kingdom Hearts, agradando alguns e desagradando outros.
6º – Alabasta (Volumes 12-24)
Crocodile é um dos vilões mais amados pelos fãs. É um mafioso-pirata com um gancho no lugar de uma das mãos, com os poderes do Homem-Areia e um vício por charutos. Não dá pra ficar mais cool que isso.
Alabasta é marcante na experiência de leitura porque é a primeira saga que foca em um subplot onde os personagens principais precisam derrubar um governo ditadorial em larga escala.
Há a introdução de Chopper, o desenvolvimento de elementos importantes do lore (como os Poneglyphs) e o impacto dramático de ser a primeira história ambientada na Grand Line, além de contar com um Shichibukai como vilão. Por outro lado, o foco da saga em elementos de subplot, que só são importantes para esse trecho, pode tornar a leitura cansativa.
5º: Dressrosa (Volumes 70-80)
Muita gente odiou essa saga quando foi publicada nas páginas semanais da revista Shonen Jump. Se o ritmo de One Piece já é extremamente lento ao ler a obra completa, imagine acompanhá-la semanalmente. Além disso, o fato de os dez volumes dessa parte se passarem em apenas um dia aumentou ainda mais o incômodo de muitos fãs.
Dressrosa, por outro lado, é o cume dramático do subplot de Law. O fato de Oda ter dedicado tanto tempo de tela a um personagem secundário é um ponto positivo, especialmente pelo papel importante que Trafalgar desempenha no mundo de One Piece, além de possuir um dos poderes mais curiosos já inventados em uma história shonen.
Doflamingo é um dos melhores vilões do quadrinho. A visão de mundo cruel dele é o oposto da de Luffy, o que torna a animosidade entre eles ainda mais marcante. Por outro lado, Oda torna a focar excessivamente em subplots. A grande obsessão em Rebecca conseguiu irritar bem mais do que apenas meia dúzia de leitores.
Dressrosa pode até reutilizar pela milionésima vez alguns elementos estruturais que Oda usou em outras sagas, mas o impacto da derrocada de Doflamingo é inegável na perspectiva macroscópica do enredo. Ele é um vilão introduzido no capítulo 233, volume 25. Nada menos que 55 volumes anteriores à edição finalizadora dessa saga. É uma das várias provas de que Oda sabe trabalhar bem a estrutura de sua história.
4º Wano (Volumes 90-105)
Muitos colocariam Wano em terceiro ou até segundo lugar. A partir desse ponto, a qualidade das sagas é alta (para os padrões de One Piece). Do quarto lugar em diante, a variedade das opiniões sérias a respeito da qualidade das sagas pode variar substancialmente. Visto que valorizamos o foco em elementos do plot central de uma obra, é imprescindível salientar o fato de que Wano é a concretização do grande objetivo do mangá desde o começo: a ascensão do Luffy dentro da Grand Line.
O combate do líder dos Mugiwara contra Kaido é um ponto do enredo que foi antecipado há centenas de capítulos, já que a introdução do conceito de imperador dos mares precede bastante essa saga. Wano é um local que foi mencionado inúmeras vezes antes de surgir. Vários de seus elementos, como os personagens Momonosuke e Kin’emon, foram trazidos à história bem antes da saga começar. Esses elementos de desenvolvimento estrutural engrandecem Wano, aumentando o impacto dramático dessa fase.
É uma saga que conta com um dos maiores plot twists de One Piece até então (sim, estamos nos referindo a Nika, cujo spoiler não daremos nesses parágrafos). Por outro lado, a repetição da mesma premissa utilizada nas sagas anteriores (os Mugiwara contra um regime totalitário) pode ser maçante para muitos.
A conclusão de Wano é muito satisfatória, tendo em vista que impulsiona o plot central para frente e traz uma configuração de poder entre os grupos sociais da história que se torna uma grande recompensa aos leitores que persistiram por mais de mil capítulos.
3º: Whole Cake Island (Volumes 82-90)
Essa é outra saga (junto de Dressrosa) que deixa os fãs divididos. Tem gente que gostou, tem gente que achou enfadonha. Achamos que ela é trabalhada de maneira completa e, por isso, merece um lugar alto em um ranking de sagas. Whole Cake Island elabora o melhor desenvolvimento de personagem de todo o quadrinho: o passado de Sanji.
Isso porque o background do loiro fumante não apenas revela informações sobre ele, mas também ressignifica o comportamento do personagem. A personalidade de Sanji adquire uma complexidade rara entre o elenco da HQ.
O trabalho narrativo em torno do cozinheiro liga-se ao realizado em relação ao clã de Big Mom, elaborando o tema central da saga: família (especialmente as disfuncionais). A importância de Whole Cake Island à trama central é evidente. É o primeiro conflito dos Mugiwara contra um imperador do mar. Esse trecho antecipa, dramaticamente, o clímax que será trabalhado em Wano.
O maior ponto fraco de Whole Cake talvez seja seus trechos enfadonhos. Mas, convenhamos, One Piece está repleto deles. Ah, importante notar: Luffy VS Katakuri é uma das batalhas mais incríveis do mangá.
2º: Water 7 (Volumes 32-46)
Existem tópicos pacificados entre o fandom. Um deles é o de que Water 7 é uma das melhores sagas da obra. Exaltemos o desenvolvimento de personagem do Usopp, que entra em conflito com a própria tripulação (se Oda tivesse repetido esse nível de escrita em outras sagas, a qualidade de One Piece aumentaria em escala incalculável).
Temos plot twists instigantes aqui também, que inclusive ajudaram Rob Lucci a ser um vilão marcante (ou pelo menos intimidador). Lugares importantes do mundo de One Piece são revelados em Enies Lobby. Momentos significativos para o mangá inteiro são estabelecidos, como quando Luffy declara guerra ao governo mundial.
Um dos poderes mais criativos do universo shonen é trazido até nós: o sistema de Gears de Luffy (aquele painel dele com o punho cerrado no chão é tão icônico quanto a splash page que revela a Bankai de Ichigo em Bleach).
A quantidade de momentos marcantes é inumerável. A cena clássica envolvendo Nico Robin e a morte de Going Merry são pontuações narrativas que ajudam a elevar a carga dramática e a importância da saga à experiência de leitura.
Water 7 é o primeiro trecho em que One Piece se torna incrível. É a saga cuja qualidade gostaríamos que existisse na obra inteira. Seu único defeito é aquele maldito arco inicial chamado Long Ring Long Land. Aquilo é a definição de desnecessário.
1º – Summit War (Volumes 50-61)
Outro ponto pacificado entre os fãs de One Piece: Summit War pode ser considerada a melhor saga do mangá. O arco do arquipélago Sabaody acrescenta quilômetros de informações importantes ao lore. O plot point da separação dos Mugiwara, brutalmente derrotados por Bartholomew Kuma, traumatiza fãs até hoje (os memes da comunidade estão aí para não nos desmentir).
A partir do arco de Amazon Lily, temos algo raramente feito em mangás shonen: alteração do status quo do grupo principal de personagens. Cada um é transportado para uma ilha diferente e o foco narrativo paira sobre Luffy, que deve sozinho passar pelas atribulações dessa saga. Isso a torna única e acrescenta um tempero a mais de imprevisibilidade e importância dramática.
Impel Down trabalha em cima desse elemento, mostrando criativamente uma aliança entre o protagonista e inimigos anteriores, como Buggy e Bon Clay. Aliás, a volta de Crocodile é badass. A batalha em Marineford é uma das melhores guerras trabalhadas na ficção popular. É um momento em que a qualidade da obra ultrapassa os padrões de One Piece. É plot twist atrás do outro, tudo em um ritmo frenético (sim, existem momentos de ritmo frenético em One Piece).
Há subtemas sérios trabalhados nesse arco, como a guerra de narrativas que ocorre em um conflito bélico entre grupos sociais. Essa é uma saga tão importante no enredo central, que motivou a criação de um time-skip que mudou o character design dos personagens principais. Momentos marcantes em Summit War não faltam. Vou encerrar esse texto com referência a um deles, aliás (leia na voz do Barba Branca): “o One Piece é real!”.
Você pode ler OnePiece clicando NESTE LINK ou pode assistir pela plataforma de streaming Netflix
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